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A freguesia de São Bento situa-se na zona centro, no Planalto de Santo António que separa a Serra de Aire da Serra dos Candeeiros, sendo a maior freguesia do concelho de Porto de Mós, com mais de 41,3 quilómetros quadrados, e uma das maiores do distrito de Leiria.
A referência escrita mais antiga que é conhecida sobre a freguesia de São Bento consta do Couseiro e refere que em 1560 habitavam em Pia Carneira Lopo João e a sua mulher Águeda Maria. O casal mandou construir uma capela em honra do Divino Mártir S. Sebastião, para agradecer o refúgio ali encontrado durante a fuga à justiça régia. Os oragos são Santa Águeda (o seu símbolo são os seios numa bandeja) e o São Sebastião, o mártir. A poucos metros da Capela encontra-se o Penedo da Cruz, assim chamado por ter gravado uma cruz que se afirma assinalar o local onde parou uma grande epidemia de peste.Em São Bento encontramos ainda capelas em Chainça, Cabeça das Pombas e Casal de Santo António, além da Igreja Matriz, construída na sede de freguesia no mesmo local da anterior
Os primeiros habitantes terão sido “degredados” de Lisboa, no século XII, reclusos que, como forma de castigo, eram enviados para um território onde a sobrevivência era uma tarefa árdua.
Neste caso, devido aos terrenos desidratados, à falta de água à superfície e à distância de todas as povoações.
A estrada do Patelo é o nome dado à ligação entre São Bento e o vale de Alvados, antiga sede de freguesia, através de uma estrada sinuosa. Deve o nome aos “patelos”, ou seja, os ladrões que a usavam para fugir após os roubos aos viajantes que se deslocavam entre Santarém e o Porto e utilizavam as estradas nos arredores.
Com a falta de água à superfície a sobrevivência dos habitantes em São Bento apenas foi possível graças à existência de pias, cavidades naturais existentes nas rochas que permitiam armazenar água da chuva.
Desde cedo também o povo foi construindo barreiros e pias comunitárias, aproveitando as características do terreno barrento ou as particularidades de pedras, para armazenar a água para saciar a sede também aos animais no regresso a casa para a ordenha. Em toda a freguesia existe apenas uma fonte natural, de caudal relativamente permanente, localizada no Covão da Fonte.
A natureza deixou o seu cunho com a abundância de pedra. O Homem usou o esforço e engenho para utilizar a pedra, supostamente inútil, numa ferramenta de vida e num modo de sustento. O rendilhado dos muros de pedra solta marca a paisagem e foi uma forma encontrada de proteger culturas, vedar animais e ao mesmo tempo obter terras aráveis. Ao encaixar as pedras em muros foi possível limpar terras para cultivo ou pastagem. Nos casos em que os muros não conseguiram absorver toda a pedra solta existente a solução foi criar “maroiços”, montes de pedra no interior do terreno vedado.
A forte presença de oliveiras é uma das imagens distintivas de São Bento, o que se deve à grande adaptação da árvore a uma terra pobre e um clima agreste. A azeitona colhida das oliveiras era um elemento vital para a população: depois de esmagada nos lagares era um líquido precioso, quer para regar a comida, quer para iluminar as noites longas de inverno. Os lagares eram uma importante fonte de rendimento e um espaço social. Durante muitos anos estiveram vedados a mulheres e, além de serem um local de trabalho árduo, acolhiam também momentos de convívio em torno de um alguidar de bacalhau à lagareiro. A “apanha da azeitona” e os lagares são elementos que se mantêm vivos até aos dias de hoje.
Uma população rodeada de calcário desde cedo arranjou forma de transformar “pedras em pão”. Os vestígios mais antigos de exploração de pedra podem ser encontrados na zona da Pia dos Lobos, de onde eram extraídas mós. A pedra era também esculpida para dar forma a pias para guardar azeite e cereais, lavadouros de roupa ou bebedouros de animais.Em meados do século XX surgiram novas pedreiras de extração de blocos em calcário que ainda mantém atividade em vários pontos da freguesia: Moleana, Espinheiro e Codaçal.Mais perto do final do século ganhou força a extração de calçada à portuguesa no Corredouro. Apesar de em São Bento a exploração ser mais recente, a calçada à portuguesa foi aplicada pela primeira vez em Lisboa, em meados do século XIX, num trabalho realizado por presidiários. O pavimento com um desenho em zig-zag foi considerado irreverente para a época e conotado com um ideal de moda e de bom gosto. A moda da calçada à portuguesa rapidamente se espalhou pelo país, colónias e além-fronteiras. Além de blocos e calçada à portuguesa, existem ainda pedreiras de laje na freguesia.
Não foi apenas o Homem que se adaptou ao Planalto. Outros animais também se moldaram às agrestes condições naturais e o caso mais interessante é o da gralha-de-bico- vermelho que, neste local, nidifica exclusivamente dentro de algares e outras cavidades. Devido à existência de um grande mundo subterrâneo, existem muitos morcegos, que são o símbolo do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.No entanto, quando se pensa em São Bento, o primeiro animal que se associa à paisagem é a vaca, introduzida pelo homem. A vaca de leite turina foi protagonista da principal fonte de rendimento da população nas décadas de 80 e 90. As cabras primeiro, e depois as vacas, tiveram um papel importante na configuração da paisagem pois impediram o crescimento excessivo de mato.Numa altura em que a comida escasseava, o leite foi uma fonte barata de sustento ao ponto de ser racionado. Os pastores recorriam ao barbilho, que impedia os cabritos de mamar nas tetas das cabras, para acelerar o desmame.
Publicado por: Freguesia de São Bento - Porto de Mós
Última atualização: 02-02-2024